Bernard Viegas
Vocês certamente
já ouviram, ou leram, a respeito do significado da palavra sustentabilidade.
Muitos, inclusive, acreditam que a mesma é apenas um termo modal. No entanto,
sustentabilidade, assim como educação ambiental, vem sendo discutida, por
diferentes profissionais, em várias partes do globo, a pelo menos 20
anos. Uma pesquisa do Ministério do Meio Ambiente, realizada às vésperas
da Rio+20, apontou
que 78% dos entrevistados desconhecia os princípios da Conferência das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. O principal objetivo dessa pesquisa
era informar o que o brasileiro pensa a respeito do meio ambiente e o consumo
sustentável. A partir dos resultados alarmantes da pesquisa afirmaríamos que a
esmagadora maioria da população brasileira não se importa com o ambiente em que
vive. Certo? Errado.
Os que
acompanharam as conferências da Rio+20,
principalmente aqueles que conviveram dia a dia com a rotina de acompanhar tudo
que acontecia durante a conferência, verificaram a mobilização de milhares de
pessoas em favor da preservação do meio ambiente. A cidade do Rio de Janeiro
estava lotada. Pessoas de todo o Brasil, e de várias regiões do planeta,
estiveram presentes em vários eventos, em vários lugares da cidade. Era
mais do que comum encontrar, fosse em bares, restaurantes e principalmente nas
ruas, pessoas de culturas diferentes. No entanto, a agitação da cidade não
diminui o nosso olhar em perceber que não vieram a passeio - embora a cidade
convide para tal. Durante uma semana a cidade do Rio de Janeiro foi o
“centro do mundo”. Exageros a parte, as atenções estiveram voltadas para a
cidade. Dessa forma, podemos considerar que os brasileiros, pelo menos os
que vieram, pareciam mesmo que estavam dispostos a ajudar para que o planeta
seja um lugar melhor para se viver.
Para o jornalista
que se interessa pelos temas que envolvem a educação ambiental, a Rio+20 foi
uma experiência enriquecedora. O jornalismo especializado em matérias sobre o
meio ambiente tem sido muito difundido. A necessidade de investigar e
divulgar a importância da preservação do planeta tem permitido maior
aproximação entre a comunicação e o ambiente. Ambos, com o mesmo objetivo. A
função do jornalista ambiental vai além da noticia. É mais do que informar.
Faz-se necessário conscientizar o público, e isso não é tarefa das mais fáceis.
O jornalista que convive com o “mundo” da educação ambiental, e trabalha dentro
de uma Secretaria do Ambiente, inevitavelmente acaba se envolvendo com as
questões ambientais que o cerca e, por isso, acaba por sair um pouco mais da
“zona do imparcial”. Acaba tornando-se mais um nessa luta!
Do dia 14
a 23 de
junho trabalhei exclusivamente na cobertura dos eventos paralelos à Rio+20, na
zona sul da cidade. Mais precisamente na Cúpula dos Povos por Justiça Social e
Ambiental e no Museu da República, no bairro do Catete. Realizamos diversas
atividades de educação ambiental, com o objetivo de conscientizar a população e
mostrar que atitudes sustentáveis poderiam mudar o planeta. Milhares de pessoas
passaram pelos jardins do Museu. Assim, tive a chance de perceber que a maioria
da população se importa com as causas ambientais, e muitos outros precisam
apenas de um “empurrãozinho”. Conversei com brasileiros de outros estados; com
argentinos, ingleses, americanos, chilenos, entre outros. Colhi e repassei
interessantes informações.
Os desafios, em meio a tanta agitação, de uma
cobertura institucional jornalística são muito grandes. Você tem que escrever
para diferentes públicos, porém com a mesma idéia central; sem fugir do
tema. Nessa Rio+20, o foco não era apenas noticiar e sim conscientizar
através do texto. O entrevistado também questionava o entrevistador. Aquele que
trabalha em meio a especialistas na área ambiental também precisa conhecer os
assuntos que os cerca. As pessoas que passaram pelo Museu da República e
acompanharam as atividades de educação ambiental estavam ali para aprender,
para questionar. E tenho certeza que saíram de lá com outra visão.
Você separa seu resíduo
em casa? As práticas sustentáveis fazem parte da sua rotina? Você sabe o que é
educação ambiental? Essas foram algumas das questões mais abordadas pelos
educadores ambientais. Montamos uma exposição chamada “O Lixo de Cada Um”. Ela
foi montada com sete toneladas de lixo, que representa tudo que uma pessoa
gerou nos últimos 20 anos, desde a Eco 92. Um corredor de lixo com espelhos
espalhados, onde as pessoas podiam se ver e perceber o que produziram sozinhas.
O objetivo era mesmo impactar e também mostrar que o resíduo (não lixo) que
produzimos pode ser reaproveitado. Digo resíduo, por que lixo é tudo aquilo que
jogamos fora, não precisamos mais, porém o resíduo pode ser reaproveitado de
diversas maneiras. Justamente essa idéia que foi apresentada nesses dias
através de oficinas de reutilização de materiais recicláveis. Transformar
objetos que poderiam ir para o lixo em peças de roupas, artesanatos, bolsas,
carteiras eram as principais atrações das oficinas e o público compareceu em
peso, participou, produziu e saiu de lá com mais idéias sustentáveis.
A Rio+20 acabou,
mas as ações ambientais estão apenas começando. Tudo que foi realizado na
cidade do Rio de Janeiro vai se espalhar mundo a fora. As práticas sustentáveis
vistas no Museu da República e na Cúpula dos Povos estão cada vez mais no
conhecimento do cidadão.
O resultado de todo trabalho foi muito positivo e se
fizermos um balanço esses últimos dias foram os mais ricos possíveis, em
relação à informação, conhecimento. O publico participou, acompanhou de perto,
se mostrou interessado em aprender e até mesmo ensinar. Toda a equipe de
Educação Ambiental do INEA (Instituto Estadual do Ambiente) e todos parceiros
presentes no Museu da República saíram de lá com a mesma sensação. Dever
cumprido. Foram dias de muito trabalho, que no fim acabaram recompensados. Não
sei estimar o número de pessoas atingidas com o nosso trabalho, mas é certo que
a semente ali plantada ainda vai se espalhar, e germinar nos quatro cantos do
planeta.
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